sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

ODISSEIA NO PARQUE


No dia 31 de Janeiro, realizou-se uma Assembleia extraordinária da Freguesia de S.  Martinho de Bougado, requerida pelo PSD, com o objectivo de se debater a requalificação dos Parques.
Sobre a forma como decorreu a Assembleia não me posso pronunciar pois infelizmente não pude estar presente.
No entanto, e porque temos memória e porque temos princípios e porque não temos palavras de bailarinos, que rodopiam ao som da música e do tocador, resolvi escrever sobre os acontecimentos mais recentes que têm envolvido estes parques tão queridos por todos os trofenses para que não se perca o contexto .


ODISSEIA  NO PARQUE


Em 2008, os trofenses começaram a andar alvoroçados com uma série de notícias sobre o seu local mais emblemático e apreciado: o Parque de Nossa Senhora das Dores!
Essas notícias apareciam quase diariamente, a maioria delas sem emissário conhecido, e ora diziam que o Senhor Presidente da Câmara ia construir os Paços do Concelho em cima da Capela, que o Parque ia ser praticamente destruído, ou que a própria capela ia mudar de lugar (!!!.) Surgiam assim uma série de informações e contra informações, qual delas a mais catastrófica e apocalítica.
De um dia para o outro, surge um «outdoor» com uma frase enigmática: «NO PARQUE NÃO!»
O alvoroço aumenta e eis que um grupo dito espontâneo consegue reunir as assinaturas necessárias para convocar uma Assembleia de Freguesia extraordinária de S. Martinho de Bougado.
Na altura, eu era a única representante do CDS e senti-me um pouco perdida perante todos os acontecimentos e informações que constantemente me chegavam.
Habituada a preparar as minhas intervenções nas Assembleias com o maior rigor e empenho possíveis, pensei que a melhor forma de me inteirar da verdade da situação era pedir explicações ao principal visado, o Senhor Presidente da Câmara, Dr Bernardino de Vasconcelos.
E assim, na véspera da Assembleia extraordinária, em 11 de Dezembro de 2008, entrei pela primeira e até agora única vez no edifício da Câmara, para, também pela primeira vez, ter uma conversa de carácter político com o Presidente que, prontamente e com muita disponibilidade, me recebeu e ouviu .
Pedi-lhe que me explicasse o que havia de verdade em todas as informações que circulavam pela Trofa, sobre o Parque, pois no dia seguinte tinha de fazer a minha intervenção na Assembleia Extraordinária e gostaria de saber o que realmente se passava.
O Senhor Presidente explicou-me o que era verdade e o que era fruto das jogadas politicas da oposição que estava a utilizar o assunto para tentar ganhar espaço e popularidade junto dos trofenses.
Assim, fiquei a saber que realmente havia um projecto de dinamização e requalificação profunda de toda a zona que ia da Serração da Capela aos Parques. Explicou-me que através de estudos de técnicos credenciados, se chegou à conclusão que a única forma de revitalizar e dignificar a área dos Parques e envolvente era fazer algumas construções pois só assim se chamariam pessoas ao espaço. No entanto, frisou também que essas construções seriam devidamente enquadradas e nunca fariam o Parque perder a sua identidade e o seu papel de grande recinto de lazer e usufruto da natureza que os trofenses tanto apreciavam.
            Nessa altura tive oportunidade de lhe transmitir que a mim, pessoalmente, não me incomodava nada que houvesse intervenções no Parque pois sempre defendi que juntamente com o Bairro da Serração da Capela era aquele o melhor espaço para se criar a grande centralidade que a Trofa tanto necessitava.
            Percebendo que o seu projecto não estava a ser devidamente compreendido e apoiado pelos trofenses, o senhor presidente fez o que qualquer democrata faz: recuou e informou que ia promover novo projecto para aquele espaço, esperando chegar a um consenso mais alargado.
Bem, no dia seguinte, realiza-se a Assembleia dita «espontânea», onde um grupo perfeitamente identificado conseguiu mobilizar a população e assim, a pretexto do Parque, realizar um grande comício político.
E depois foi ouvir aqueles trofenses todos a carpir sobre o Parque, que era o local onde tinham namorado, onde as mães tinham recitado versos, onde os antigos faziam as suas romarias, onde se comemoravam as vitórias dos trofenses e que NO PARQUE NINGUÉM MEXIA!
Eu ainda fui dizendo que o passado do Parque foi glorioso mas que neste momento era um espaço onde já ninguém namorava, ninguém se sentia seguro e que nenhum pai deixava sequer que os seus filhos o atravessassem, quanto mais lá brincassem, sendo urgente uma intervenção de fundo. Fui insultada, interrompida, desqualificada, como se a minha opinião não tivesse o mesmo valor de qualquer outro trofense.
Aliás, qualquer pessoa que, naquela Assembleia quisesse dizer qualquer coisa que não fosse «NO PARQUE NÃO!» viu-se em maus lençóis e as suas intervenções serem interrompidas pelo Presidente da Assembleia.
Criou-se uma comissão de ilustres para defender com unhas e dentes o parque e o Presidente da Junta da altura, que por acaso continua a ser o mesmo, prometeu que enquanto ele estivesse à frente dos destinos de S. Martinho, nunca seria construída nem uma pedra ou derrubada uma árvore no Parque!
Entretanto, em Maio de 2009, o Senhor Presidente apresenta um projecto de reabilitação e requalificação dos Parques e a notícia surgida no NOTÍCIAS DA TROFA dizia mais ou menos assim:
«A Câmara Municipal da Trofa assinou um protocolo de financiamento resultante de uma candidatura ao Programa Operacional do Norte, que prevê a requalificação dos Parques (…) A candidatura envolve cerca de 10 milhões de euros e conta com uma comparticipação de 70 por cento.
O projecto prevê a requalificação dos dois parques da cidade da Trofa, com o apetrechamento das zonas verdes e de lazer (…) a junção dos parques permitirá ter uma grande área de espaço ajardinado, com infraestruturas para lazer como um novo parque infantil, "maior e mais atractivo” (…) contará com alguma beneficiação dos edifícios pré-existentes no sentido de haver um melhor enquadramento urbanístico e arquitectónico (…) "todo o verde que vemos no Parque é um verde para manter, melhorar e requalificar, tornando aprazível e com dignidade, capaz de atrair as pessoas a uma convivência forte". Está ainda previsto um parque de estacionamento "com cerca de 400 lugares" e "acoplado à estação de metro" que será subterrânea sobre os parques e que será "um dos pólos do desenvolvimento" do próprio espaço.(…) O projecto vai contar com parceiros de conforto como a Metro do Porto, Fábrica da Igreja Paroquial da freguesia de S. Martinho, o Instituto de Segurança Social, a Santa Casa da Misericórdia, a Cruz Vermelha, o ASAS, o Rancho Folclórico da Trofa, o Rancho das Lavradeiras da Trofa, o Rancho Folclórico de Alvarelhos, o Rancho Folclórico de S. Romão, o Rancho Etnográfico de Santiago de Bougado, o Grupo de Danças e Cantares de Santiago de Bougado, a APPACDM, a Escola Secundária da Trofa, os Agrupamentos Verticais das Escolas da Trofa, do Coronado e Covelas e do Castro.»
Novo escândalo! Agora o Presidente ia encher o Parque de mamarrachos ao longo da nacional 14, ia cortar árvores, em suma, nova tentativa de destruir o Parque.
Continuou o movimento «espontâneo» de trofenses a clamar com fervor «NO PARQUE NÃO!» e moveram todas as suas influências para impedir que mais este projecto fosse avante.
Requalificar, arranjar-sim, construir – nunca!, defendiam.
Entretanto, a partir de Outubro de 2009, verifica-se uma mudança política no Concelho e em Novembro de 2010, vemos no Boletim Municipal um projecto de requalificação dos Parques acompanhado deste texto
«A Câmara Municipal da Trofa vai lançar o Concurso Público para a requalificação dos Parques (…). Esta requalificação está integrada numa candidatura que engloba dois edifícios, um de serviços públicos e outro de apoio ao parque, com funções distintas. O primeiro vai integrar a Loja Social, a Brigada Pró-família, o Gabinete de Apoio ao imigrante , o gabinete de apoio à toxicodependência, o Gabinete de Apoio à 3ª Idade, o Centro Comunitário, o DNA da Trofa, o Gabinete de apoio ao Micro empresário, um espaço para actividades e sensibilização ambiental e outro destinado à Junta de Freguesia de S.Martinho de Bougado. (…) Este projecto de Requalificação dos Parques (…) foi aprovado no âmbito de uma candidatura (…) com um investimento elegível total de 9383.500 euros, cujo financiamento de Fundos Estruturais Europeus corresponde a 80% e uma contrapartida local correspondente a 20%.(…)»
Bem, aqui é que eu fiquei deveras confusa! Então a Presidente da Câmara não é a mesma do «No Parque Não»? Não é a mesma que rejeitou taxativamente qualquer construção no Parque e que fez disso uma das suas fortes promessas de campanha?
Li bem os dois textos de apresentação e não percebi diferenças de fundo pois se o primeiro previa a construção de edifícios ao longo da nacional 14, este constrói-os ainda não sabemos bem onde mas constrói-os na mesma, se um ia ceder espaços a instituições trofenses, o outro também cede espaços a instituições trofenses, embora diferentes.
Agora eu pergunto: o que fez o Presidente da Junta meter o seu papel de defensor do parque na gaveta e agora achar que este projecto é muito bom? Então e o seu Parque? As suas árvores? Os pássaros? Os poemas? Já nada disso interessa?
E o grupo «espontâneo» de cidadãos do «No Parque Não?» . E a comissão saída da Assembleia de Freguesia de Dezembro de 2008, que ia acompanhar e defender o Parque? Agora já não têm razões para lutar? O Parque já não corre perigo de ser descaracterizado?
Nada do que se está a passar me surpreende porque no artigo que escrevi logo após a Assembleia extraordinária, termino a dizer que o Parque foi só um pretexto, não a preocupação principal dos que a promoveram.
Pois é, mas houve alguém que com estas palavras lançadas ao vento e estas promessas feitas aos trofenses, conseguiu ganhar um município com escassos seiscentos votos de diferença. E quem é que me garante que essa meia centena de votos que lhe deram a vitória, não foram de trofenses que acreditaram mesmo que «NO PARQUE NÃO?»
Haja decência! Como se consegue credibilizar a política com atitudes destas?

Por

Maria Emília Cardoso 

10 comentários:

  1. O meu aplauso, D. Emília Cardoso. Essa coisa de "No Parque Não" não pasou de propaganda eleitoral, para alguém subir os degraus que conduziram à cadeira municipal. Vamos continuar atentos e lá estaremos no dia 25.
    Parabéns. E as melhoras rápidas.

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  2. Drª você bem tenta falsear os factos, mas a assembleia de freguesia deixou tudo clarinho. O PSD só quer atacar.
    Tenha calma e dedique-se a fazer politica com correcção.
    Uma professora tao apreciada e competente, e na politica só faz asneiras.
    Que Emilia Cardoso é esta?
    De uma amiga...

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  3. Duas coisas muito simples sobre a Trofa e os trofenses:

    1. Nesta terra, só porque é o outro partido a dar ideias, mesmo que sejam boas, eu não concordo. Se vier do meu partido já é óptimo!

    2. Os trofenses têm memória curta e, regra geral (repito, estou a generalizar), são adeptos (é mesmo este o termo) de quem der mais febras e concertos com cantores pimba...

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  4. Artigo muito bom, como aliás já é hábito, vindo de quem vem...

    A verdade, nada mais do que a verdade...
    Tudo para combater a propaganda socialista no nosso concelho...
    Os quem antes diziam que no parque ninguém toca, defendem agora uma requalificação que não faz sentido!!
    Sou totalmente a favor da requalificação dos parques, mas não da forma que se pensa fazer!! E quem nos (des)governa devia ter a humildade de ouvir a opinião dos trofenses, em vez de nos tentarem iludir e manipular!!

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  5. Boa tarde a todos,

    Começo com duas notas às participações que aqui pude ler:

    1. Silvéria, subscrevo na íntegra: simples, directo e altamente realista. Lamentavel mas verdadeiro...

    2. Anónima (05:30h), se ficou clarificada com aquela assembleia ridicula mais marcada pela falta de educação e inconsistências de parte a parte do que pela discussão sem resultados práticos deve ter sido a única. No dia 25 iremos perceber o que realmente se está a passar.

    Maria Emília Cardoso,

    às vezes penso que os representantes políticos desta terra não pensam no que dizem ou escrevem. Quando são oposição são contra algumas questões e afirmam-no naquele tom de honra e justiça à boa maneira do melhor épico de Hollywood. Depois encontram-se no poder e magicamente mudam de ideias. A minha crítica não vai tanto contra o simples facto de mudar de ideias mas antes contra a forma enérgica com que as combateram para depois, surpreendentemente, se tornarem favoráveis ao que ainda ontem era uma catástrofe natural...fico com a sensação que estas pessoas faltaram às aulas no dia de aprender o significado de palavras como "coerência", "lógica" e "racionalidade". Nada de novo na pátria lusa, principalmente quando estamos a falar dos profissionais da política.

    Sou a favor que se requalifique o parque que, infelizmente, funciona hoje mais como sala de visitas para consumidores de heroína do que propriamente para o cidadão comum, seja ele trofense ou visitante. Penso que, dada a sensibilidade do assunto, deveria ser uma questão amplamente discutida pelos trofenses, e não fruto de uma decisão unilateral como aconteceu com os Paços do Concelho.

    De "No Parque Não" passamos para o "No Parque Sim". Acho ridiculo como a dança de cadeiras política muda as aspirações e convicções de algumas pessoas num curto espaço de tempo, principalmente quando estamos a falar de algo tão importante. Fico com a sensação de estar perante manobras eleitoralistas assombradas pelo fantasma do clientelismo...

    Mais que decência Maria Emília Cardoso, é preciso haver coerência e principios. Ficarei calmamente a aguardar pelo dia 25 de Fevereiro.

    Um abraço,

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  6. Bom dia!

    Não costumo responder a comentários orais ou escritos que implícita ou explicitamente me tentam ofender a nível pessoal (para quê???). Por isso, anónimo das 05h30, considere um «privilégio» esta minha atenção ao seu comentário. ´
    Primeiro, gostava que referisse, se faz o favor,um único facto falso que o meu artigo apresenta e que esclarecesse o seu conceito de «política com correcção»,uma vez que me acusa de não ser essa a minha forma de estar na política.
    Depois, gostaria de lhe dizer que o seu comentário mostra bem que quando não existem argumentos consistentes para rebatermos as opiniões com as quais não concordámos, o melhor é insultar e tentar desqualificar, para assim criar alguma confusão junto das pessoas. Claro que só recorre a esse estratagema quem ainda não percebeu como funciona a democracia e portanto não é capaz de aceitar e integrar visões e posicionamentos divergentes. Ou então, quem, julgando-se muito inteligente, tipo um iluminado, tem uma ideia miserabilista daqueles a quem dirige os seus comentários,nivelando-os todos por baixo e pensando que é assim que consegue o quer deles: uns votitos para ser eleito para uma «jota», uma escola, um condomínio, uma associação, ou uma Junta ou uma Câmara. São pessoas que não têm em boa conta aqueles para quem escrevem ou falam, porque pensam que são todos iguais àqueles de quem eles se rodeiam e que ouvem em perfeita adoração e êxtase a meia dúzia de palavras bem escritas e o seu discurso bem falante. Felizmente, o meu patamar é outro! Sou professora e os professores estão habituados a olhar para um aluno como uma pessoa com um potencial extraordinário e que é preciso desenvolver. O professor não «desce ao nível do aluno», o professor acompanha o aluno nas suas dificuldades e a partir daí tenta dar-lhe ferramentas para que ele possa tornar-se num cidadão autónomo, crítico e interventivo. O professor respeita as pessoas, não as usa e é por isso que em estudos de opinião sucessivos,os portugueses têm na mais alta consideração os seus professores. Quando eu mostro frequentemente a minha frustração por ver a gerir os destinos da minha terra pessoas sem qualquer tipo de perfil do que deve ser um autarca do século XXI (e não estou a referir-me que têm de ser só doutores e engenheiros), muitas pessoas dizem-me que quem conhece os trofenses são as estruturas do PS Trofa e dá-lhes o que eles querem e com quem eles se identificam. Bem, eu atrevo-me a dizer ao contrário: o poder na Trofa é que pensa que todos os trofenses são como eles e no meio deste nivelamento por baixo e desta falta de respeito pela inteligência e capacidades dos trofenses, a nossa terra vive sem glória e pouca honra. Já agora, anónimo, no final despede-se com «de uma amiga». «Amigas» anónimas? Não tenho, pode ter a certeza disso. Os meus amigos são escolhidos e caracterizam-se pela sua frontalidade e educação. Só se for «amiga» do FACEBOOK mas isso,como sabe, é no mundo virtual e do entretenimento, não no mundo a sério. Cumprimentos.

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  7. Fantástico Professora.
    Não tenho nada a acrescentar ao seu texto, apenas adjectivo-lo de Fantástico.

    Não se incomode com os anónimos que aqui aparecem a tentar esconder a verdade, é isso que eles tentam fazer, esconder a verdade e tentar que os habitantes acreditem nas mentiras deles. Neste ultimo ano, muita coisa vai mal no nosso jovem concelho.

    Parabéns professora! (embora nunca tenha sido minha professora)

    1 forte abraço!

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  8. Olá Drª Emília, amiga e colega

    Gostei do que li, é preciso acabar com fantochadas...
    A Trofa precisa de gente séria e coerente, nos lugares certos...

    Irene Guimarães

    http://mireneguimaraes.wordpress.com

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  9. PARABÉNS PELO TEXTO!!!

    Emília, vamos ver o andamento desta política trofense...

    Temos que estar firmes, nas escolhas para a TROFA...

    Vamos ver o projecto para os parques, não me iludo com gente oportunista...
    Nem antes,nem durante, nem depois...
    Tenho dito...

    http://mireneguimaraes.wordpress.com

    Irene Guimarães

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  10. Não basta dizer que se mentiu, é preciso dizer onde se mentiu. E este texto não o faz.
    Seriedade sff...

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