quinta-feira, 31 de março de 2011

GERAÇÃO DESENRASCADA

Ao longo da nossa vida, deparámo-nos com momentos cruciais em que somos confrontados com a inevitabilidade de fazermos escolhas.
Um desses momentos é no final do 9º ano, quando os jovens têm de escolher uma área de estudos que irá determinar o seu percurso futuro.
Escolher cursos da área das Humanidade, da área das ciências e tecnologias ou da área das artes é, pois, um dos maiores e mais importantes desafios que se colocam a um jovem.
Alguns, mais pragmáticos, decidem colocar dentro da gaveta as disciplinas em que são mais competentes e de que mais gostam e, influenciados pela escola e, sobretudo, pela família, acabam por enveredar por cursos que, à partida, lhes trarão mais estabilidade no futuro. Estes jovens acabam por se inscrever no curso de Ciências e Tecnologias que lhes dará acesso aos cursos da área da saúde e das engenharias, entre outros.
Há, no entanto, jovens mais idealistas que decidem seguir mesmo as disciplinas de que mais gostam e escolhem os cursos relacionados com as humanidades e as artes.
Claro que ao tomarem essas opções os jovens devem estar conscientes das dificuldades do mundo que os rodeia e conhecerem bem o mercado de trabalho onde pretendem inserir-se para depois não sofrerem decepções quando tiverem dificuldade em arranjar o primeiro emprego.
No já longínquo 12 de Março, a geração «à rasca» saiu à rua para mostrar ao país as dificuldades porque está a passar.
Protestaram contra a precariedade no emprego e contra o desemprego.
Olhando atentamente para o perfil dos organizadores da dita manifestação, o que é que nós temos?
Jovens licenciados, mestrados e até em doutoramento. Muito bem!
Cursos? Relações Internacionais, Relações Públicas, mestrados em «Paz no mundo» e outros semelhantes.
É claro que nada tenho contra estes cursos até porque também eu escolhi um curso da área das humanidades (História) e já em 1979 diziam que estava difícil para arranjar emprego, mas é preciso dizer a estes jovens que o estado português não tem de criar empregos para um jovem mestrado em «Paz no mundo», por muito intelectual, culto e inteligente que esse jovem seja. Penso que terá de pedir emprego nas Nações Unidas ou outros organismos semelhantes ou então terá de responsabilizar a universidade que o formou para essas inutilidades.
Aliás, o verdadeiro problema encontra-se precisamente na falta de escrúpulos que impera em muitos estabelecimentos de ensino superior que se vêem confrontados com excesso de professores e falta de alunos e vai daí criam cursos que são autênticas inutilidades mesmo sabendo que estão a licenciar jovens cujo destino é um call center ou uma caixa de um supermercado, isto se tiverem sorte, senão vão mesmo para o desemprego.
Confrontando-se com esta situação, muitos jovens com cursos sem colocação possível têm enveredado pela política e lá temos nós o futuro carregado de políticos «à rasca» e que, dessa forma, tentam desenrascar-se na vida.
Claro que nem todos os jovens se enquadram no panorama descrito acima, mas penso que esses não faziam parte dos não sei quantos milhares de manifestantes do 12 de Março pois ainda há jovens que, querendo tirar os cursos da sua preferência, não consideram que o estado é obrigado a sustentar as suas opções conscientes e vão à luta.
À luta verdadeira, dura, difícil.
Não à luta do FACEBOOK, das manifestações ou das cantigas e que terminam nos bares de moda, nas mensagens dos telemóveis de última geração ou dos portáteis mais sofisticados que os papás pagam.
Esses jovens são empreendedores, confiam nas suas capacidades e não se importam de começar numa empresa a desempenhar funções abaixo das suas habilitações e competências. Têm paciência e sabem que um dia serão reconhecidos e a sua oportunidade chegará. Não ficam em casa, no conforto do seu quarto, agarrados ao computador a mandar currículos pela internet (isto nos intervalos de mais uns joguinhos online e de umas mensagens para os amigos).
Esses jovens são aqueles a quem eu chamo desenrascados, por oposição aos que só se lamentam que estão «à rasca».
Quando terminei o meu curso, comecei imediatamente a procurar emprego nos mais variados locais: escolas, bibliotecas, museus…todos os dias via a página dos classificados dos jornais à procura de uma vaga para professor de História, Português ou Geografia.
Nada aparecia. Entretanto, e como não queria estar sem fazer nada, inscrevi-me na Escola Superior de Jornalismo do Porto. Enquanto esperava por uma coisa ou outra, montei uma pequena escolinha em casa e comecei a dar explicações. Para além disso, ajudava os meus pais no seu negócio. Um dia, vi no JN um anúncio a pedir uma professora de História para Freixo de Espada à Cinta. Sem contar nada a ninguém (pois tinha medo que os meus pais e namorado me tentassem fazer desistir da ideia) concorri e fiquei colocada, pois fui a primeira classificada entre vinte e nove candidatos ao cargo. Do meu ano de licenciatura, fui dos poucos que comecei a trabalhar logo no 1º ano porque não fiquei em casa a lamentar ou a protestar.
É claro que os tempos são outros mas eu trago aqui a minha experiência de vida para mostrar que todos os jovens têm um caminho difícil a percorrer é só sairão dessa situação se em vez de estarem constantemente a dizer que estão «à rasca», devem antes tornar-se uns desenrascados. 

Por
Maria Emília Cardoso

segunda-feira, 28 de março de 2011

A Sociedade adormecida

Parte II – A revolução de laboratório
Existe uma linha ténue que separa o mundo teórico, conceptual e ideal daquilo que é a realidade. Séculos de evolução humana permitiram muitas conquistas ao ser humano, que evoluiu de uma condição de quase escravatura na Idade Média para, supostamente, viver hoje numa era de liberdade, da expressão à imprensa, passando pelas esferas da política, religião ou até da sexualidade. Infelizmente, o peso das palavras incute ideias falaciosas que, de uma forma subtil, pervertem o real sentido de alguns conceitos que comummente entendemos como fundamentais para um exercício pleno de ser humano.
O conceito de Democracia é o primeiro quebra-cabeças com que nos deparamos. O notável político e estratega militar inglês Winston Churchill uma vez referiu que “A democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais que têm sido experimentadas de tempos a tempos”. Não poderia estar mais de acordo com estas palavras. Comparativamente aos regimes autoritários, totalitários ou teocráticos que marcaram negativamente o século passado, fossem eles de esquerda ou de direita, a democracia é e continuará a ser o mais justo dos regimes porém, numa óptica em que todas as outras formas de regime político são fracas.
Apesar dos primeiros passos dados na Grécia Antiga, é com os iluministas do século XVIII que surgem as bases para aquilo que entendemos como democracia moderna. Sintetizando, a democracia é uma forma de organização política na qual existe um contrato social entre todos os Homens, contrato esse que legitima um centro de poder que deve responder perante os seus subordinados, o povo. Paralelamente a esta ideia, novas premissas como a separação de poderes, a igualdade perante a lei, o direito à propriedade privada e as liberdades ditas fundamentais emergiram de mãos dadas com a materialização das ideias iluministas, a Revolução Americana e, mais tarde, a Revolução Francesa que curiosamente foi rapidamente subvertida pelos ímpetos imperialistas de Napoleão Bonaparte.
Avancemos dois séculos. O modelo democrático, fruto de várias adaptações desde as ideias de John Locke ou Rousseau, triunfou na Segunda Guerra Mundial e na Guerra Fria (ou será que foi o modelo socialista a fracassar?). Com o fim da Guerra Fria, muitos afirmaram que a democracia tinha triunfado, outros, como o académico Francis Fukuyama afirmaram categoricamente que as ideologias tinham chegado ao fim, estávamos perante o “Fim da História e o Último Homem”. O Homem (ocidental) podia respirar de alívio! Uma nova era de entendimento, progresso e paz tinha chegado sob a égide da democracia. Em 1974, a “novidade” chega a Portugal, envolta numa nuvem de inúmeras incógnitas de difícil explicação.
O momento em que Portugal se solta das amarras do Estado Novo é a primeira das incógnitas, o início do novelo. O 25 de Abril é um importante momento histórico que se apresenta habitualmente como um épico em que bravos oficiais de baixa patente, revoltados com a ditadura e sobretudo com a Guerra Colonial decidem depor o regime liderado então por Marcello Caetano. Os livros escolares e os filmes alusivos a este momento retratam-no do ponto de vista heróico e romântico mas poucos são aqueles que têm a coragem de mostrar o que realmente esta por trás da Revolução dos Cravos. Menos ainda aquelas que o conhecem. A começar por quem permitiu que a revolução acontecesse.
Por altura da revolução, Portugal fazia já parte da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Ora a OTAN (ou NATO) é uma estrutura militar internacional cujos membros estão protegidos pela própria organização. Em caso de uma agressão militar interna ou externa a qualquer um dos membros, tal ataque é considerado como um ataque a toda a estrutura. Posto isto, e independentemente do regime repressivo praticado na altura por Lisboa, é muito difícil de entender porque é que a frota naval da OTAN, estacionada no Tejo no dia 25 de Abril de 1974, nada fez para defender o regime em vigor. Alguns poderão afirmar que a liderança da OTAN decidiu assim penalizar a ditadura portuguesa. Mas, se assim fosse, porque não tiraram também o tapete ao General Franco que só cairia com a sua morte em 1975? Ou porque é que países com regimes sombrios como o Cazaquistão, Uzbequistão ou a Bielorrússia possuem estatuto de parceiros estratégicos da OTAN? Ah! O maravilhoso e hipócrita establishment ocidental.
Quem conhece a história oficial do 25 de Abril é familiar com o facto dos capitães se terem deparado com um entrave quando foram buscar Marcello Caetano para o exílio. O então chefe do governo luso recusou-se terminantemente a encetar negociações com oficiais de baixa patente e, sem saídas à vista, os bravos capitães viram-se forçados a recorrer a António Spínola, destacado fascista que recebeu a rendição das mãos de Marcello e se tornou no primeiro Presidente da República no período pós-revolução. Até aqui nada de novo. O que muitos ignoram, mas que está bem patente no Centro de Documentação de Abril da Universidade de Coimbra, bem como nos trabalhos de Luis M. Gonzaléz-Mata, Frederico Duarte Carvalho ou Andrei Grachev, foi que entre 19 e 21 de Abril de 74, a menos de uma semana da revolução, o administrador da Lisnave Thorsten Anderson se reuniu com o então Secretário-Geral da OTAN, Joseph Luns, para lhe entregar uma mensagem de Spínola na qual o general português pedia a não-intervenção da frota da OTAN estacionada no Tejo. Como muitas pessoas ainda pensam, Spínola não “caiu de pára-quedas” no epicentro da revolução. A título de curiosidade, esta reunião teve lugar no encontro anual do Clube Bilderberg.
Estes factos deixam-me perplexo. Afinal, quem forjou a democracia portuguesa? O que motivou a OTAN a virar as costas ao regime português em vigor que tão útil fora no passado? Quem toma este tipo de decisões e com que interesses geopolíticos? Mas, no meio de tantas perguntas, o que mais me perturba é a certeza de que a democracia portuguesa não é o resultado de movimentações heróicas e patrióticas, movimentações essas que existiram e desempenharam o seu importante papel, mas antes de alinhamentos políticos internacionais com pouco interesse pela liberdade dos portugueses.
“Se começássemos a dizer claramente que a democracia é uma piada, um engano, uma fachada, uma falácia e uma mentira, talvez nos pudéssemos entender melhor.”
José Saramago

Cumprimentos,
João Mendes

terça-feira, 22 de março de 2011

O principio do Fim...


Nas ultimas vezes que tenho escrito para A Voz da Trofa, tenho abordado a situação político-partidária do nosso País, esta semana após a apresentação do PEC IV de tudo circo mediático que se sucedeu é incontactável debruçar-me novamente sobre o tema.


Se muitos desejavam que este governo não chega-se ao próximo orçamento após o discurso de tomada de posse de cavaco silva isso ficou claro. Cavaco prometeu exercer uma magistratura activa, na defesa dos interesses de Portugal. Os juros da divida nos mercados de capitais ultrapassaram os pela primeira vez os 8%, os partidos não se sentam a mesa para negociar matérias decisivas para o futuro só nosso pais. Já se ouve falar em eleições antecipadas, mas onde esta o Sr. Presidente da Republica de que esta a espera Cavaco Silva para intervir? O reputado economista não sabe quais são as consequências dos tumultos criados pelos partidos.


O PS como partido de governo continua na mesma linha de actuação, “piscar o olho” aos abutres, perdão, aos mercados de capitais, tentando restabelecer a confiança no nosso País.Com alguns tropeços as noticias da execução orçamental de 2011 são animadoras. Por seu lado o PSD como maior partido da oposição, sedento de poder, líder nas sondagens, aproveitando a contestação social nas ruas ao actual governo faz o discurso da mudança necessária, não dizendo em que consiste essa mudança. Apenas mudança por mudança. Sabemos que Passos Coelho, pretende liberalizar o mercado de trabalho privatizar algumas empresas e pouco mais se sabe dos seus intentos. Eis que os barões do PSD começam a ficar impacientes “ passos coelho manda calar os boys para conseguir segurar o barco”, mas não tem resultado. Com a apresentação do PEC IV Passos Coelho (PC), Tem a oportunidade de ouro de para fazer cair o governo. Ontem para meu espanto PC imite um comunicado bilingue, que sucintamente diz o seguinte. Passos Coelho refere que só com um “amplo consenso” o país poderá “adoptar medidas adicionais de austeridade” e acusa o Governo de assumir uma postura “omissa” e de “negligenciar procedimentos democráticos”. E o que falta para um amplo consenso? O Ps propôs uma coligação de governo com o PSD. Então Passos Coelho disse o seguinte, em bom português. O PSD é líder de sondagens vamos lá criar uma crise politica de uma vez por todas que eu quero ser Primeiro-ministro. Mas continua tudo igual, comprometo-me pelas medidas anteriores que o governo tomou, assim como e o PSD e CDS aprovaram estas medidas de forem governo. Como é que os mercados olham para esta crise nacional? E as instituições Europeias. Já pensaram o que acontecera se PSD nas próximas eleições não tiver uma maioria absoluta, mesmo que coligado com o CDS?

Por 
Daniel Neira

segunda-feira, 21 de março de 2011

Correio de leitor Geração à Rasca - A Nossa Culpa

Este texto foi-nos enviado na rubrica correio de eleitor. Segundo Paulo Costa, o leitor que nos enviou o texto, o mesmo circula na redes sociais sem tem autor conhecido.


"Um dia, isto tinha de acontecer.
Existe uma geração à rasca?
Existe mais do que uma! Certamente!
Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa
abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes
as agruras da vida.
Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar
com frustrações.
A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também
estão) à rasca são os que mais tiveram tudo.
Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância
e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus
jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.
Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a
minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos)
vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós
1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.
Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram
nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles
a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes
deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de
diversão, cartas de condução e 1º automóvel, depósitos de combustível
cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as
expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou
presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.
Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o
melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas
vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não
havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado
com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.
Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A
vaquinha emagreceu, feneceu, secou.
Foi então que os pais ficaram à rasca.
Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem
Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde
não se entra à borla nem se consome fiado.
Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar
a pagar restaurante aos filhos, num país onde  uma festa de
aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a
pais.
São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e
da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que
os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade,
nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração.
São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter
de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e
que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm
direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas,
porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem,
querem o que já ninguém lhes pode dar!
A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo
menos duas décadas.
Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.
Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por
escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na
proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que
o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois
correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade
operacional.
Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em
sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a  informação sem que isso
signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas
competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere.
Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por
não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração
que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que
queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a
diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que
este, num tempo em que nem um nem outro abundam.
Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo
como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as
foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras.
Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não
lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável.
Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.
Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de
montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o
desespero alheio.
Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e
inteligência nesta geração?
Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!
Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no
retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e
nem  são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como
todos nós).
Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados
pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham
bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados
académicos, porque, que inveja!, que chatice!, são betinhos, cromos
que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e,
oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a
subir na vida.
E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos
nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares
a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no
que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida
e indevidamente?!!!
Novos e velhos, todos estamos à rasca.
Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.
Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme
convicção de que a culpa não é deles.
A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem
fazer melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e
a sociedade não consegue, não quer, não pode assumi-la.
Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam.
Haverá mais triste prova do nosso falhanço?
Pode ser que tudo isto não passe de alarmismo, de um exagero meu, de
uma generalização injusta.
Pode ser que nada/ninguém seja assim."

sexta-feira, 18 de março de 2011

Acto Contínuo

O país está a ferver. Não existe conversa entre duas pessoas em que não se aborde a actual situação económica, política e social deste pequeno Estado (futura província? futuro protectorado?) situado no extremo ocidental da Europa. Várias são as soluções apontadas (aproximadamente dez milhões). Mas também é o tempo do oportunismo. Para além do oportunismo dos agiotas internacionais (será que ninguém acha chocante apelidar a dívida de um país como "LIXO"?), surge sempre o oportunismo político.

O passado dia doze de Março pode ser considerado como a "Ponte 25 de Abril" do governo de Sócrates. Vários milhares de jovens, e não só, mostraram o seu descontentamento com o actual rumo do país e a falta de perspectiva das gerações mais novas quanto ao futuro. Enquanto a geração saída do 25 de Abril tinha planos a médio ou longo prazo, as actuais têm o horizonte… do mês seguinte! Os recibos verdes (produto ideológico vendido como uma medida modernaça) passaram a ser norma e os falsos multiplicam-se por milhares de jovens que vivem numa situação laboral equivalente a um trapézio sem rede. Quando o patronato fala de rigidez laboral e depois verificamos que os contratos a prazo e os recibos verdes representam um terço da população empregada, temos sempre que relembrar que o ataque aos direitos dos trabalhadores não dá tréguas.

Nestas situações, como sempre, aparecem sempre os oportunistas do costume, alguns sem vergonha nenhuma. O PSD, antevendo a queda do governo por podridão, procura já entrar na fase de distanciamento das actuais medidas de austeridade contempladas pelos PEC´s acordados entre o PS e o PSD. Parece que foi produto da nossa imaginação o tango e a foto do Catroga com o Teixeira dos Santos. A JSD foi ainda mais longe ao associar-se ao movimento "Geração à Rasca". Tendo em contas as propostas do actual líder do PSD para o mundo do trabalho, como por exemplo o contrato verbal (só falta mesmo o contrato por sangue) classificar de oportunismo esta colagem sabe a eufemismo. Até uma destacada figura do PSD local, na sua crónica semanal no "O Notícias da Trofa" escreve " No próximo dia 12 vou dar o meu grito de revolta. No dia 12 de Março vou dizer que sou português e quero ter um país. " não deve estar a par das propostas do líder do seu partido ou do teor dos livros com prefácios do mesmo. Nem mesmo quando afirma " E, mesmo assim, não podemos sofrer. O Sistema Nacional de Saúde não permite. Contenção de custos é assim mesmo. O sofrimento é um luxo. " não deve conhecer (ou está a ludibriar?) o conceito de serviço público do líder do seu partido (basicamente privatizar tudo e reduzir o SNS a serviços mínimos). Mas afinal saíram à rua para quê? Grande pirueta política!

Os movimentos cívicos podem ser importantes na participação e mobilização de segmentos da população sem nenhum contacto com estruturas partidárias. Mas também a força que daí advém pode resultar num acto inconsequente. O que é feito do milhão de votos em Manuel Alegre (Desaparecido em Combate) em 2006? Ou dos votos em Fernando Nobre (Desaparecido em Combate II), que tanto pregou em favor da sociedade civil? Aparentemente tudo sem grande substância. A luta e as suas formas e conteúdos só ganham quando são consequentes e pragmáticas. Por isso, os mesmos que estiveram presentes nas acções de luta do dia 12 de Março não devem esquecer a jornada de luta da CGTP no dia 19 com o lema " Dia de Indignação e Protesto ".

quarta-feira, 16 de março de 2011

Em 7 meses, a Trofa vai de mal... a Melhor!

Li atentamente debate descrito no último JT.
Primeiro, reafirmo o meu lamento pelo desaparecimento deste jornal. Mas, simultaneamente, sou inflexível na convicção de que nenhum poder autárquico poderia contribuir, mesmo que involuntariamente, para a sustentabilidade financeira de uma jornal. Se o jornal não encontrou forma de se financiar junto do meio empresarial, se não conseguiu atingir patamares de qualidade que justificassem o investimento privado, então o encerramento é a solução óbvia. E defendo, consequentemente, a actual redução de despesa camarária nos meios publicitários e de propaganda, transaccionando essas verbas para o que realmente contribuiu para o aumento da qualidade de vida dos trofenses.
Mas indo ao debate e passando a nota prévia. Tomei a liberdade de sublinhar as afirmações conclusivas relativas a diversos temas que foram abordados pelas diversas personalidades, a grande maioria pertencendo aos partidos de direita, o que não é segredo para ninguém.
Em cada tema, terei o rigoroso cuidado de apenas transcrever o que vem referido no JT.
Paços do Concelho
“Construção dos Paços do Concelho com avanços significativos.”
“hoje se está muito mais perto de uma solução para os Paços do Concelho do que há sete meses atrás. A conclusão foi partilhada pelos restantes membros da mesa”
“a câmara está seriamente empenhada em chegar ao acordo com os proprietários dos terrenos”
Associativismo
“não há dúvidas que quando não há dinheiro é preciso reduzir”
“uma das críticas que tenho a fazer-lhes [ao anterior executivo] foi o facto de terem criado, ficticiamente, um conjunto de associações que não existem. Não são nada e foram apoiadas com subsídios, o que é grave”
Situação financeira da câmara“as receitas correntes são quase correspondentes às despesas correntes”
“a responsabilidade é da péssima gestão anterior. Gostaria que eles estivessem agora a governar para ver como iriam arranjar soluções”
“É necessário inventar, criar, fazer alguma coisa. Agarrar-mos ao passado é que não nos leva a lado nenhum”
Metro para a Trofa
“o mérito ou falta dele não pode ser, na opinião de Luís Reis, atribuído a nenhuma das gestões camarárias”
Novas estação da CP
“nova estação da CP correspondeu às expectativas”
Requalificação do Parque
“È imprescindível haver construção. A solução passa por fazê-las num lugar que provoque menos impacto, que é o que está previsto”.
PDM
“Plano Director Municipal continua sem dar respostas”

No final do debate surge a misteriosa expressão: “sete meses depois, a Trofa vai de mal a pior”. Se lerem na integra a entrevista, e pelo que aqui transcrevo, ficámos até com a ideia contrária. Existe progresso, iniciativa e esperança. As dificuldades vêm do passado e estão a ser transpostas. Este última frase e que até vai para manchete, é dita não se sabe por quem, aparecendo caída dos céus.
Porquê a inclusão desta expressão? Porquê este jornalismo tendencioso? Fiquei com a franca ideia que a jornalista fez toda a peça, mas depois alguém escreveu o último parágrafo. Lamentável.
O importante é, de facto, o conteúdo. E optimista fiquei quando percebi que mesmo aquele painel, partilha do optimismo dos trofenses e vê evolução e esperança nos últimos progressos a que assistimos.
O caminho é duro. Mas a Trofa está a conseguir caminhar para o futuro.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Os meios de comunicação social e a sociedade


"Sete meses depois a Trofa vai de mal a pior", é o primeiro título da capa da edição especial dos 50 anos do "Jornal da Trofa", a qual tive muito gosto em adquirir e que me presenteou com fotografias de locais da Trofa à poucos anos atrás, lado-a-lado com fotografias actuais, que me permitem afirmar que muito foi feito, sem esquecer claro a contribuição com um artigo da colega colaboradora desta plataforma, Maria Emília Cardoso à qual deixo desde já os meus parabéns.
Nesta edição especial do "Jornal da Trofa", muito se pode ler contra o actual executivo camarário, mas eu não quero acreditar que possa ter sido este o motivo do cancelamento das periódicas publicações deste jornal que muito contribuiu para a informação dos habitantes do nosso concelho, dando asas a teorias de "tentáculos de polvo".

Os meios de comunicação social adquiriram nos últimos anos uma importância enorme, tanto em edições em papel como em edições online que cada vez mais adquirem mais seguidores. Não são vistos apenas como um meio de difusão de notícias, como também são um meio de transmissão de opiniões pessoais, sendo até utilizados para movimentações de pessoas em massa e até mesmo manipulação de opinião pública, bastando apresentar uma determinada notícia  de outra forma e com outros dados que será o suficiente para a opinião pública ser alterada.
Por todos estes motivos e por muitos mais, é fácil atribuir elevada importância aos meios de comunicação, sendo que o número e a diversidade destes meios apenas venha elevar a qualidade da opinião pública, pois um sujeito apenas pode decidir bem, se tiver adquirido a informação suficiente para tal e é de salientar que ultimamente as pessoas cada vez mais formam uma opinião pessoal, não se baseando na opinião dos outros, e eu acredito que este facto se deve ao aumento das fontes de informação aliadas a um aumento do grau de escolaridade que se verifica actualmente.
Não estou com isto a dizer que o único jornal que temos actualmente é mau, nada disso, muito pelo contrário, contribui com a sua parte, mas na minha opinião é preciso mais, mais diversidade de opinião, mais pontos de vista sobre as mesmas notícias, pois só assim reunimos a informação suficiente para podermos construir uma opinião própria com coesão e bem argumentada.

Cumprimentos;

Nuno Costa

sábado, 5 de março de 2011

A Sociedade adormecida

Parte I – A ponta de um grande novelo.

Ciberterrorismo para uns, liberdade de informação para outros, já ninguém é indiferente ao WikiLeaks, um dos actores políticos em maior destaque na actualidade. Independentemente de hipotéticos objectivos ocultos que esta organização possa ter por detrás das verdades reveladas, nunca os líderes mundiais tiveram tantas insónias como nos dias que correm. Ninguém sabe quem será o próximo… E não é que fomos nós as últimas “vítimas”?
No decorrer da passada semana, o semanário Expresso juntou-se aos inúmeros jornais de todo o mundo que decidiram divulgar os documentos disponibilizados pela plataforma liderada por Julian Assange (não deixa de ser curioso que o primeiro jornal português a estabelecer uma parceria com o WikiLeaks seja controlado pelo grupo Impresa, propriedade de Francisco Pinto Balsemão, único português membro permanente do Grupo Bilderberg). Dos 5 telegramas trocados entre a embaixada norte-americana em Lisboa e Washington, revelados até agora (parcialmente censurados), o WikiLeaks apresenta-nos as habituais promiscuidades políticas a que pacificamente nos temos vindo a acomodar, pressões políticas com vista à concessão de favorecimentos ao gigante do armamento norte-americano Lockheed Martin, críticas duras ao antigo Ministro da Defesa Nuno Severiano Teixeira e ao funcionamento medíocre das Forças Armadas Portuguesas, onde o rácio de altas patentes por número de soldados efectivos é um dos mais elevados dos aparelhos militares modernos em todo o mundo, isto para não falar nos cerca de 170 generais na reserva a receber reformas milionárias. Qualquer semelhança com o aparelho político-partidário português é pura coincidência.
Mas a cereja em cima do bolo materializa-se nas declarações do embaixador norte-americano em Lisboa, Thomas Stephenson, que refere, no seu telegrama de 5 de Março de 2009, que “os desejos e acções do Ministério da Defesa parecem ser guiados pela pressão dos seus pares e pelo desejo de ter brinquedos caros”. E acrescenta que o Ministério da Defesa “compra armamento por uma questão de orgulho, não importa se é útil ou não.” Stephenson refere-se aos dois submarinos e 39 caças (dos quais apenas 12 funcionam conforme refere o documento) que Portugal adquiriu em 2009. Stephenson foi substituído em Novembro do mesmo ano por Allan J. Katz.
Muito mais haveria a dizer sobre os documentos disponibilizados pelo WikiLeaks. Importa-me destacar que até o Sr. Assange já sabe que somos governados por gente incompetente, irresponsável e, segundo o antigo embaixador norte-americano, orgulhosa (no sentido mais pretensioso da palavra). Aparentemente, os portugueses são os únicos que ainda não se aperceberam. Talvez se pedirmos à Globo para fazer uma novela sobre o assunto consigamos captar a atenção de uma fatia considerável da população. Até lá, continuaremos a dormir como sempre fizemos.
Contudo, vivemos tempos de mudança. Aos poucos, os portugueses começam a acordar. A maior parte destes portugueses atentos partilha algumas características que, pouco ou nada puderam fazer para contrariar: nasceram entre meados da década de 70 e meados da década de 80, e apesar de serem a geração mais qualificada da história do país em termos académicos, viram o seu futuro hipotecado pela incompetência, corrupção e mediocridade da rotatividade governativa de PS e PSD pós-25 de Abril e, como consequência, não têm condições de emprego ou esperanças realistas de estabilidade económica no futuro. Para além destes factores negativos, não se podem dar ao luxo de ser empreendedores de circunstância porque, por um lado, a UE já não despeja dinheiro em Portugal para distribuir sem controlo e, por outro, já não é tão fácil abrir uma empresa, roubar o dinheiro, comprar um Ferrari e fechar a empresa. Bons velhos tempos do Vale do Ave e do Vale do Sousa… Ah! Quase que me esquecia de outra característica fundamental, central em todo este emaranhado: os principais culpados por toda esta situação têm o péssimo hábito de culpar estes jovens pela suposta degradação da sociedade, em todas as suas vertentes, quando foi precisamente a geração anterior, a sua, a principal responsável pela destruição da credibilidade política, social e económica de Portugal.
No próximo dia 12, a geração do futuro hipotecado vai se manifestar. Manifestar-se não só pela precariedade da sua situação mas também contra a compra desses “brinquedos” militares inúteis, contra as frequentes renovações da frota automóveis dos vários ministérios, contra a ostentação da classe política e todas as mordomias imorais que envergam à custa do cada vez mais pobre contribuinte, contra os salários milionários que alguns dos nossos políticos acumulam com reformas também elas milionárias, contra os salários milionários de administradores de empresas públicas que acumulam essa função com outro emprego e a desempenham de forma péssima na generalidade dos casos, contra as derrapagens de milhões das grandes obras públicas deste país, como o CCB ou a Casa da Música, contra o financiamento de partidos políticos que se deveriam financiar com as cotas dos seus associados e não com dinheiros públicos e contra mais, muito mais.
Queremos saber porque é que há dinheiro para tudo isto se o país está perto da bancarrota e não nos pode ajudar. Queremos pedir contas à cobardia dos dirigentes deste país que nada fazem para alterar este estado de coisas. Queremos justiça e democracia para todos. Aos poucos, a sociedade começa a abrir os olhos e demarcar-se da postura de ombros encolhidos daqueles que foram educados para não contestar estas anormalidades. Chegou o momento de depor o Ancién Regime. Mas tudo isto é apenas a ponta de um grande novelo…
“Every generation needs a new revolution”
Thomas Jefferson

Cumprimentos,
João Mendes

quarta-feira, 2 de março de 2011

TANTAS JUNTAS DE FREGUESIAS PARA QUÊ?


Actualmente, existem em Portugal 4260 freguesias, o que significa uma média de uma freguesia para cada 2497 habitantes de Portugal.
Se pensarmos que a cada médico de família estão atribuídos mais de 5000 mil doentes, podemos perceber melhor o quão desfasado da realidade é este número de freguesias. 
Mouzinho da Silveira, em 1832, e Passos Manuel, em 1836, foram os políticos liberais que se atreveram a reformar o quadro administrativo do país, fixando os municípios em 351.
Passados quase 180 anos da reforma de Passos Manuel, o número de municípios e de freguesias não se modificou muito e Portugal continua a ter um mapa autárquico igual ao do século XIX, quando estamos já em pleno século XXI.
Se nessa altura se podia justificar a existência de tantas freguesias pela dificuldade de acessos às sedes concelhias, na era da Internet nada disso se justifica pois a noção de distância alterou-se radicalmente e o mundo está à mão de um simples clique.
 Torna-se urgente um plano de reorganização autárquica que leve a uma significativa redução da despesa pública, pois a cada freguesia corresponde um órgão executivo, a Junta de Freguesia.
Cerca de 30% das autarquias têm menos de dez mil habitantes pelo que as receitas próprias geradas não chegam sequer para pagar os vencimentos do presidente e do restante executivo que representam uma sobrecarga pesadíssima para os cofres do estado.
Tendo por comparação uma freguesia como S. Martinho de Bougado, que tem mais de 10000 e menos de 20000 eleitores, um Presidente de JF recebe 22% da remuneração do Presidente da República, ou seja, 1678,67 euros a que se acrescentam 488,83 euros de despesas de representação e mais outras regalias. Ora, se encontrarmos um número médio para estes valores e se o multiplicarmos pelo número de freguesias existentes e acrescentarmos as despesas com vogais, funcionários, manutenção de edifícios, viaturas, para além de outros gastos, facilmente poderemos chegar a números verdadeiramente astronómicos.
A própria existência de tantos autarcas, leva a um aumento da despesa pois cada um deles tem ambições políticas pessoais o que o leva a tomar medidas despesistas de «caça ao voto» e a criar lugares para satisfazer uma vasta clientela político-partidária.
E como se justificam estes gastos atendendo à pouca relevância das funções atribuídas a este órgão administrativo local?
Pensemos de forma racional: o que é que uma JF faz que não possa ser  feito pelo executivo camarário?
Pequenas obras em ruas? Pequenos arranjos nas escolas do 1º Ciclo? Zelar pelo cemitério, parques e jardins?  
Se consultarmos a lei das competências autárquicas, verificamos, facilmente, que existem muitas alíneas mas poucas são as funções relevantes para um PJ desempenhar, sendo muitas delas até consideradas ridículas para os nossos tempos.
Muitas vezes, um PJ funciona como um ponta de lança do Presidente de Câmara e uma base de apoio para as suas políticas (no caso de ambos  pertencerem ao mesmo partido político), ou então, (quando pertencem a partidos políticos rivais), funciona como uma força de bloqueio à implementação do programa do Presidente da Câmara que é visto como um adversário político a abater.
Em ambos os casos, não representam qualquer mais valia para a freguesia, que acaba por se ver arrastada em guerrilhas políticas desgastantes e na maioria das vezes, dispendiosas.
Podemos recear que o poder de decidir sobre o território que cultural e tradicionalmente nos está mais próximo, ficará muito centralizado nos municípios e que perderemos uma atenção mais personalizada sobre os problemas dessas pequenas unidades territoriais, mas aí é que entra o papel fundamental da Assembleia de Freguesia, que funcionaria como um verdadeiro fórum, onde se debateriam os problemas e  levantariam as   necessidades para depois,  através do Presidente da Assembleia, se fazer a ponte com a Câmara Municipal, que atuaria no plano executivo.
Estes membros das Assembleias de Freguesia seriam eleitos pelo povo mas não receberiam qualquer senha de presença e também nesta medida se poupariam milhões pois basta contar o número de eleitos por essas 4206 freguesias para nos apercebermos de outro enorme desperdício de dinheiro.
Concluíndo, manter as freguesias, mas diminuir ou extinguir as Juntas de Freguesia, torna-se urgente para atacar o despesismo da máquina do estado.
Será este governo suficientemente corajoso para enfrentar os interesses instalados e arriscar uma forte contestação popular e política? Estarão estes políticos dispostos a olhar para o seu interior e a mexer nas suas imensas regalias? Estará o país preparado para colocar em causa o seu obsoleto sistema político?

Por:


Maria Emília Cardoso