quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O obscurantismo do sector público

Por muita areia que nos atirem para os olhos, por muito que se tente esconder o sol com uma peneira, todos sabemos (alguns acham que não sabem mas lá no fundo não têm dúvidas) que a realidade do “tachismo” (adoro este termo) não é um mito. Ouço a esquerda a falar em igualdades, ouço a direita a falar de meritocracia, mas na realidade, o acto profissional do “abanamento” da bandeira em campanha ou o simples facto de se ser filho de A ou amigo de B, são das melhores referências para ingressar no admirável mundo novo das empresas municipais e não só. Aqueles fantásticos empregos em instituições de tal forma funcionais que nem é preciso trabalhar à Sexta-feira porque as autarquias portuguesas são, aparentemente, superavitárias. Terá este facto alguma relação causa/efeito com o magnifico desempenho da administração pública portuguesa?   
Depois assistimos a debates intensos entre juventudes partidárias, nomeadamente as duas que “descendem” dos dois partidos que controlam o aparelho político nacional, PS e PSD, com o intuito de perceber quem é o campeão das avenças. Recordo-me de participar numa dessas discussões na qual um elemento de uma das “J’s” me tentou convencer que empresas municipais não necessitavam de concurso para o acesso aos seus lugares. Sinceramente fiquei com algum receio de verificar o que diz a lei portuguesa sobre este assunto não fosse tal barbaridade ser mesmo verdade. Não é, que alívio.
Podemos tolerar este tipo de situações? É claro que não. Numa sociedade democrática, a igualdade de oportunidades deve ser uma realidade, não apenas uma premissa. Acredito no conceito de igualdade como acredito no conceito de mérito, apesar deste último poder ser facilmente subvertido. A realidade dos favorecimentos no sector público para além de imoral não promove o profissionalismo. Coloca a gestão dos assuntos públicos nas mãos de pessoas sem real vocação, e muitas vezes sem a mínima capacidade, e corrompe as ideologias partidárias na medida em que atrai novos militantes com base na possibilidade de conseguir algo e não com base em dinamizar a nação através da sua ideologia.
Tudo isto leva-me a acreditar num triste facto: cada vez mais jovens entram para as fileiras dos partidos políticos, não pelos motivos que os deviam levar a entrar na política mas antes pela possibilidade de poderem vir a conseguir um bom emprego com pouco custo. Ou, melhor ainda, conseguirem chegar ao “harém” dos Ministérios e Secretarias de Estado onde o glamour dos carros topo de gama e dos cocktails contrastam profundamente com a realidade de um país que se precipita para o abismo da dívida. Onde um dia poderemos acumular uma bela e milionária reforma com um emprego numa multinacional à qual fizemos um favorzito ou outro durante o nosso tempo no “poleiro”. Onde pouco importa se exercemos bem ou mal as nossas funções porque nunca seremos julgados por elas no futuro e ainda nos arriscamos a poder dar cobertura a fraudes bancárias e sermos considerados arautos da integridade e da honestidade. Quem tem amigos não morre na cadeia.
Cumprimentos,
João Mendes

P.S. Existe, neste momento, uma discussão acesa no nosso concelho sobre a hipotética tentativa de controlo institucional da Escola Secundária da Trofa (EST) por parte do executivo socialista da Câmara Municipal da Trofa. Vários actores locais, de entre os quais destaco a JSD por ter sido o único organismo, tanto quanto sei, a denunciar publicamente esta situação, acusam a edil de estar por trás da instabilidade que se vive no liceu por, aparentemente e entre outras coisas, querer impor o seu próprio marido, Nuno Cruz, como representante camarário no Conselho Geral da EST. Não colocando de lado a hipótese do Sr. Nuno Cruz ser uma pessoa altamente competente para executar a função, não deixa de ser curioso, e até estranho, a insistência da presidente em que seja o seu marido a exercer a função. Principalmente por ser do conhecimento público as desavenças entre o Sr. Nuno Cruz e o antigo director do liceu, que levaram Nuno Cruz a retirar o seu filho da referida escola. Na minha opinião, a presidente Joana Lima deveria explicar aos trofenses o porque de uma escolha que para muitos levanta suspeições. Mais do que pela sua própria credibilidade, pela defesa da transparência que advoga.
Por ter sido uma questão levantada depois deste texto ter sido elaborado e por estar ligado aos temas que nele abordo, achei importante deixar esta nota para reflexão de todos os participantes.

17 comentários:

  1. Oh joao...o que este concelho sofreu com isso. Os famosos avençados,pagos apenas para escrever nos jornais.
    Porque achas que os jornais acabam? Porque acabou esse obscurantismo
    Porque achas que só o filho do ex-presidente fala agora? Porque o resto já nao tem o que tinha...

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  2. Caro JTT,

    Em primeiro lugar, o meu texto refere-se à realidade nacional e não apenas à Trofa, apesar de se reflectir na Trofa. Quando falo em "tachismo" não me refiro apenas aos avençados que refere mas a todos aqueles que beneficiam com favores do poder político.

    Os jornais são pano para muitas mangas. Se por um lado não alinhei em teorias da conspiração que afirmavam que o fim do Jornal da Trofa foi orquestrado pelos socialistas trofenses, enquanto cidadão acho muito estranho situações que tenho conhecimento como o facto do director do NT ser marido da assessora de comunicação da presidente da CMT. Dá que pensar não acha?

    O obscurantismo está longe de acabar meu caro, na Trofa, em Portugal e no mundo.

    Cumprimentos,

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  3. Esse facto seria relevante se o comportamento do NT fosse tendencioso. Mas vê isso de alguma forma?
    Aliás se reparar, o NT dá especial relevância a tudo o que vem da oposição.
    Isso acontece porque para dar uma imagem de imparcialidade, tenta-se ser parcial em favor da oposição.

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  4. Não seja redutor JTT. Isto não se trata apenas de ser tendencioso. Trata-se da forma como a informação é tratada e do acesso privilegiado à mesma que um facto destes acarreta.

    O NT não é imparcial meu caro, é claramente socialista. Quando quiser, senta-mo-nos os dois com alguns exemplares à frente e eu comprovo-lhe por A mais B aquilo que digo. Da mesma maneira que o JT era claramente de direita. O NT inclusive deturpou o comunicado recente da JSD com os cortes que fez no video que publicou no seu site e não é preciso ser formado em comunicação social para perceber o que aconteceu. Outro exemplo muito bom é a ausência de informação no NT sobre o claro embuste que foi a vinda de Ana Paula Vitorino à Trofa anunciar o metro virtual. E poderiamos continuar por ai fora mas ainda não tive tempo de fazer uma análise mais funda aos conteúdos do NT, que farei, e, posteriormente, utilizarei este espaço para dar conta das minhas conclusões.

    Não andamos todos a dormir JTT.

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  5. Desculpe mas discordo.
    Você não viu os videos publicados sobre as afirmações na Ana Paula Vitorino onde inclusivé a ridicularizam?
    Não vê o número de manchetes que a oposição já teve este mandato?
    Não vê o painel de cronistas?
    Tiago V PSD
    Moreida S CDS
    Atanagildo CDU

    Sabe qual é o do PS? Não existe!

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  6. (desculpem, porque é que o meu nome não aparece sublinhado? - não sou muito experiente em blogs)

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  7. Caro JTT,

    O facto de não ter comentadores socialistas pode ser interpretado como uma forma subtil de hipotética imparcialidade. Para muita gente, o facto de o PS ser a unica força política concelhia a não ter um comentador habitual no NT pode ser uma demonstração de imparcialidade. Mas também pode ser visto como um "atirar areia para os olhos". Neste tipo de análise, tudo é relativo. De qualquer forma, de que adiantaria ter comentadores do PSD, CDS e PCP se os restantes conteúdos fossem pró-PS? Se calhar exagerei quando disse que o NT não era imparcial. Mas insisto que é, na minha opinião, tendencialmente socialista. É a minha opinião. Videos a ridicularizar a Ana Paula Vitorino não conheço nenhum mas se quiser partilhar agradeço.

    O seu nome não aparece sublinhado porque n
    ao está registado como blogger.

    Cumprimentos

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  8. Excelentíssimo João Mendes,
    Ontem, disse-lhe (disse-te)para dar uma "vista de olhos" nas declarações que, Miguel Macedo proferiu, em resposta a uma acusação do Governo(lamento que não tenha passado nos noticiários à noite, somente quem de perto se encontra, é que assistiu).
    Pedindo a palavra, pela supra razão de defesa da honra da bancada social-democrata, o deputado Miguel Macedo,citou Mário Soares numa entrevista dada ao Diário de Noticias datada de Um de Fevereiro de Dois Mil e Onze, passo a citar: "Para o PS português, é o momento, também, de fazer uma reflexão aprofundada. Para dar um novo impulso à sua participação na vida política (independentemente do Governo), com mais idealismo socialista e menos apparatchik, mais debate político e menos marketing, mais culto pelos valores éticos e menos boys que só pensam em ganhar dinheiro e promover-se, enfim, mais voltado para o futuro e menos para o passado."

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  9. Caro amigo 10.14.1.14,

    Na verdade não tive oportunidade de ver a peça jornalística mas li a entrevista de Mário Soares. É uma entrevista reveladora da clara aproximação do PS ao lado direito do espectro, da diluição ideológica que está em curso e da subversão de alguns valores socialistas. Não quero acreditar que tal seja transversal a todo o partido mas começa a ser evidente a ascenção de uma robusta ala neoliberal dentro do PS com mais apreço pelas práticas económicas sociais democratas do que pelo idealismo socialista da década de 70/80.

    Um abraço

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  10. Caro amigo João Mendes,
    para mim, a formatação desse novo ideário, ao encontro daquilo que defino como a minha crença politica, é bom.
    Haja o bom senso de entender que as ideias cobertas de betão armado, também são passiveis de oscilar como um pau de madeira.

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  11. Caro 10.14.1.14,

    Os políticos portugueses nunca foram muito hábeis no que toca à construção civil.

    Um abraço

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  12. Ó João, já nem sei se hei-de comentar o artigo (excelente, como sempre) ou se dar alguma achega aos assuntos tratados nos comentários.Vou talvez começar por abordar o assunto que mais me interessa que é o da tentativa de politizar a E Secundária da Trofa. Pelo Post Scriptum percebi que entretanto já se informou devidamente do que se passou e confirmou o ato vergonoso e inqualificável de Joana Lima ao querer impor a nomeação do seu marido Nuno Cruz para o Conselho da Escola, isto quando ainda mal tinha aquecido o lugar de Presidente da Câmara. Felizmente as leis ainda existem e foi possível travar semelhante ato de puro despeito e vingança a frio. Mas que ninguém se esqueça que se essa nomeação não foi avante foi porque houve um empate e a Joana Lima não pôde votar por existir um conflito de interesses (até esse aspeto ela desconhecia!!!)porque se o PS tivesse mais um representante essa situação verificava-se na realidade e hoje, para além do presidente da JS, de alguns pais e empresas perfeitamente conhecidos pelo seu gravitar em volta do poder, ainda teríamos o marido da presidente na ES, mesmo sem ter lá qualquer filho! Portanto, para que querem deitar «terra para os olhos dos trofenses»? Os atos sempre valeram mais do que mil palavras. Quanto à liberdade de expressão no concelho... bem eu não quero alongar-me muito nesse assunto pois sou uma defensora e conhecedora da existência de pressões para o encerramento do JT e para silenciarem o painel de comentadores na RÁDIO TROFA, do qual eu fazia parte. Em relação ao NT, quando dizem que não tem nenhum comentador do PS eu acrescento que nem precisa, basta ler os «interessantíssimos» artigos contidos na coluna «Correio do leitor» para se perceber que este PS do poder tem lá a sua voz bem representada, se é que são apreciadores daquele estilo, evidentemente. Portanto, concluindo, parece-me que os contributos do João são cada vez mais interessantes à medida em que também me apercebo que se vai inteirando de muitos aspetos da nova realidade da Trofa. E termino dando-lhe os parabéns por ser um jovem que não precisou de se meter na política para lhe serem reconhecidos os seus méritos e conseguir um emprego. Um abraço.

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  13. Amigo João Mendes,
    só consigo(contigo) é que consigo ter um tom irónico em matérias sensíveis. Assim sendo:
    Os políticos portugueses começaram a ganhar alguma destreza, em matéria de constução civil, a partir do momento em que a MotaEngil se tornou a construtora oficial do estado.

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  14. Olá Maria Emília Cardoso,

    Obrigado pelas suas palavras. Muito me honra receber tal reconhecimento da parte de alguém com tanta experiência nos campos da política.

    Relativamente ao seu comentário, gostaria apenas de deixar algumas notas que me parecem relevantes. Confesso que não estou tão a par da situação que se vive neste momento no liceu apesar de ter tido acesso a alguma informação por parte de fontes diferentes. Apesar de ser questionável a suposta tentativa de imposição do marido da sra. presidente ao Conselho Geral da Escola, tive posteriormente conhecimento que o Sr. Nuno Cruz tinha já desempenhado funções na esfera do associativismo, bem como no âmbito escolar, funções essas que foram exercidas num período anterior à eleição da sua esposa para a CMT. Por ser uma questão sensível e por se estar a criar espaço para boatos e contra-informação, insisto que ser abonatório para a Dra. Joana Lima que fossem dadas explicações consistentes aos trofenses sobre esta matéria.

    Relativamente ao NT, mantenho que o considero um jornal "à esquerda" e claramente "simpático" para as tendencias socialistas do concelho. Lembro-em de um texto quase propagandístico e claramente parcial publicado num passado recente, "Crónicas do Reino", onde era evidente a tentativa de descredibilizar o PSD e vangloriar o PS. Apesar de se tratar de um texto repleto de incongruências históricas e falácias que infelizmente não aludiam ao período "imperialista" e repressivo sobre o jugo do PS Santo Tirso.

    Cumprimentos,

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  15. Caro 10.14.1.14,

    Não foi a MotaEngil que se tornou a construtora oficial do estado. Alguns governos é que foram os governos oficiais da MotaEngil. Sao eles que enchem as panelas dos "boys".

    Um abraço

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  16. Parabéns pelo texto João, descreves infelizmente uma boa parte da classe política...
    É de entristecer o facto de uns sujeitos serem contra a empresa municipal, e assim que tomam o poder, a opinião muda-se, já não são contra ela e inclusive do nada passam a exercer funções nessa empresa...

    Mas felizmente João, nem todos são assim, ainda há gente que se envolve na política por um acaso, começam a gostar e permanecem por amor à causa, nunca reclamando para si o que quer que fosse, dando um grande exemplo a muita gente, conheço de perto algumas pessoas assim, mas não vou mencionar nomes.
    Mas para além disto, sejamos correctos, não existe nenhum partido que esteja livre desse cancro que mencionas, quando um partido perde umas eleições, existe muita gente que deixa de o achar "apetecível" e troca de filiação, indo-se filiar no partido do poder, sei que é um assunto sério, mas não consigo conter um sorriso quando assisto a um cenário destes, mas e não é que alguns deles conseguem vingar mesmo assim do outro lado? :s

    É de congratular as pessoas que se movem por idealismo (gosto muito de pessoas idealistas), essas sim merecem o nosso respeito e admiração!

    1 forte abraço

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  17. Nuno,

    Não tenho dúvidas que existe boa gente na política, pessoas incorruptíveis que realmente querem levar o país para a frente. Infelizmente, esses são a minoria. No entanto, acredito que fazemos parte de uma geração mais consciente, bem informada e com sensibilidades e escalas de valores bem diferentes das actuais que poderão, no futuro, gerar mais valia neste país e no mundo em geral.

    Uma última nota: é verdade que não podemos afirmar que partido algum esteja livre desta "doença", no entanto, ela é mais significativa no PSD e PS por serem estes partidos a ocupar o poder rotativamente e por existir uma rede de interesses que gravita em torno destes dois actores políticos.

    Um abraço

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