sexta-feira, 18 de março de 2011

Acto Contínuo

O país está a ferver. Não existe conversa entre duas pessoas em que não se aborde a actual situação económica, política e social deste pequeno Estado (futura província? futuro protectorado?) situado no extremo ocidental da Europa. Várias são as soluções apontadas (aproximadamente dez milhões). Mas também é o tempo do oportunismo. Para além do oportunismo dos agiotas internacionais (será que ninguém acha chocante apelidar a dívida de um país como "LIXO"?), surge sempre o oportunismo político.

O passado dia doze de Março pode ser considerado como a "Ponte 25 de Abril" do governo de Sócrates. Vários milhares de jovens, e não só, mostraram o seu descontentamento com o actual rumo do país e a falta de perspectiva das gerações mais novas quanto ao futuro. Enquanto a geração saída do 25 de Abril tinha planos a médio ou longo prazo, as actuais têm o horizonte… do mês seguinte! Os recibos verdes (produto ideológico vendido como uma medida modernaça) passaram a ser norma e os falsos multiplicam-se por milhares de jovens que vivem numa situação laboral equivalente a um trapézio sem rede. Quando o patronato fala de rigidez laboral e depois verificamos que os contratos a prazo e os recibos verdes representam um terço da população empregada, temos sempre que relembrar que o ataque aos direitos dos trabalhadores não dá tréguas.

Nestas situações, como sempre, aparecem sempre os oportunistas do costume, alguns sem vergonha nenhuma. O PSD, antevendo a queda do governo por podridão, procura já entrar na fase de distanciamento das actuais medidas de austeridade contempladas pelos PEC´s acordados entre o PS e o PSD. Parece que foi produto da nossa imaginação o tango e a foto do Catroga com o Teixeira dos Santos. A JSD foi ainda mais longe ao associar-se ao movimento "Geração à Rasca". Tendo em contas as propostas do actual líder do PSD para o mundo do trabalho, como por exemplo o contrato verbal (só falta mesmo o contrato por sangue) classificar de oportunismo esta colagem sabe a eufemismo. Até uma destacada figura do PSD local, na sua crónica semanal no "O Notícias da Trofa" escreve " No próximo dia 12 vou dar o meu grito de revolta. No dia 12 de Março vou dizer que sou português e quero ter um país. " não deve estar a par das propostas do líder do seu partido ou do teor dos livros com prefácios do mesmo. Nem mesmo quando afirma " E, mesmo assim, não podemos sofrer. O Sistema Nacional de Saúde não permite. Contenção de custos é assim mesmo. O sofrimento é um luxo. " não deve conhecer (ou está a ludibriar?) o conceito de serviço público do líder do seu partido (basicamente privatizar tudo e reduzir o SNS a serviços mínimos). Mas afinal saíram à rua para quê? Grande pirueta política!

Os movimentos cívicos podem ser importantes na participação e mobilização de segmentos da população sem nenhum contacto com estruturas partidárias. Mas também a força que daí advém pode resultar num acto inconsequente. O que é feito do milhão de votos em Manuel Alegre (Desaparecido em Combate) em 2006? Ou dos votos em Fernando Nobre (Desaparecido em Combate II), que tanto pregou em favor da sociedade civil? Aparentemente tudo sem grande substância. A luta e as suas formas e conteúdos só ganham quando são consequentes e pragmáticas. Por isso, os mesmos que estiveram presentes nas acções de luta do dia 12 de Março não devem esquecer a jornada de luta da CGTP no dia 19 com o lema " Dia de Indignação e Protesto ".

10 comentários:

  1. Caro amigo Garcia,

    Parabéns pelo artigo.

    É uma triste realidade que os momentos de crise sejam também momentos de grande oportunismo. Ver a JSD associada ao movimento Geração à Rasca apenas para ajudar a abater José Sócrates ignorando a contribuição crítica do seu partido para o actual afundamento do país foi algo de realmente perturbador para quem, como eu, acredita em causas de pessoas para pessoas. Isto sem esquecer, tal como referes, a "negociata" do PEC III e toda a hipocrisia que envolve o actual chumbo do PEC IV por parte do PSD. A manifestação do dia 12 foi também um cartão amarelo ao PSD pois é a incompetência da rotatividade governamental PSD/PS que levou o país a este estado de degredo.

    Um abraço

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Acho muito bem que as pessoas se manifestem! Se não estão bem, manifestem-se! Agora meus amigos, "Geração à rasca" e de Iphone na mão??? santa paciencia...

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  4. Olá Zé,

    Confesso que não estava à espera de uma generalização tão pouco estruturada como a que fazes ao dizer " "Geração à rasca" e de Iphone na mão???" até porque quem lê literalmente aquilo que escreves fica com a ideia de uma manifestação de putos mimados de iPhone na mão e não foi isso que lá se passou. Talvez devesses enviar uma mensagem semelhante ao líder do teu partido, que por acaso é PM, e dizer-lhe "Medidas de austeridade e o governo a ganhar balúrdios?" ou talvez " Medidas de austeridade e renovações constantes da frota automóvel dos Ministérios" ou ainda "Medidas de austeridade e reformas milionárias para ex-PR's/PM's/Ministros/ Presidentes de Institutos ou Fundações inúteis?".

    Nem parece teu meu amigo, e digo isto sem qualquer ironia antes que alguém se lembre de fazer um comentário idiota ou interpretar as minhas palavras de forma falaciosa.

    Um abraço

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  5. Fica o aviso: para a próxima o melhor é ir vestido com peles de animais e levar um objecto de pedra lascada.

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  6. Mendes, tens razão quando falas na questão das medidas de austeridade e das renovações das frotas automóveis, mas, relativamente á manif, a questão do iphone foi apenas "um exemplo", e para compreender o meu ponto de vista, o texto enviado via correio do leitor explica bem pois concordo com QUASE tudo o que lá está escrito...

    Garcia, esperava um pouco mais da tua capacidade de argumentação...

    Cumprimentos aos dois!

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  7. Zé,

    O texto do correio do leitor é uma opinião válida mas não mais que isso, uma opinião. Não vale mais que a tua, não vale mais que a minha, não vale mais que a do Garcia. Tem algumas coisas com que concordo (poucas) e outras que, na minha opinião, não fazem sentido (muitas). Mas dai até fazeres o tipo de associação que fizeste vai um longo caminho. A forma como interpreto este texto, é um claro ataque a geração dos nossos país que falhou na educação dos seus filhos por ser demasiadamente permissiva e passiva, o que não significa que todos os jovens se tenham desenvolvido com base nestas permissas de ter tudo independentemente do sacrifício dos país. Muito jovens têm um iPhones, vão ao Pavilhão Atlântico ou aos festivais de Verão, aos bares, discotecas ou restaurantes porque trabalham ou juntam dinheiro para o efeito. Generalizações geram entendimentos superficiais de realidades complexas, não me revejo nesse modo irresponsável de raciocínio.

    Sinceramente, este texto chega a ser idiota quando fala nos "qualquercoisaphones e pads" como se os portugueses andassem todos com este tipo de gadgets. Provavelmente, este senhor vive na capital onde existe mais abundância. Gostava que ele me mostrasse os iPhones no Alentejo e os iPads de Trás-os-Montes. É curioso que ele não refira a mania parola dos portugueses que têm que fazer férias na Páscoa porque têm muito dinheiro quando uma grande fatia destes veraneantes de Primavera fazem essas férias com recurso a crédito fácil que depois se torna mais caro do que era suposto.

    Não me admira que o senhor não se identifique, é claramente um registo "hiperbólico" e muito tendencioso, fica a sensação que serve algum feudo. E Zé, o que pretendes da nossa geração? Mais uma fornada de conformistas que acham que as coisas estão destinadas a ser assim e que não à nada a fazer? Mais terreno fértil para políticos corruptos e irresponsáveis continuaram a alimentar os seus lacaios e afundar ainda mais o país? A contestação/reacção é fundamental para sermos menos ovelhas e mais pessoas.

    Abraço

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  8. Ao ler alguns comentários fico com vontade de rir, uns porque têm mesmo um pouco de humor à mistura, outros pela sua contradição em pouco espaço de tempo.
    José, o comentário do Garcia realmente não é construtivo, mas comentários do tipo " "Geração à rasca" e de Iphone na mão???" também não apresentam argumentação alguma. Perante esse teu comentário, o comentário dele faz sentido, e tem humor.

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  9. O José Santos faz-me lembrar aquele género de pessoa que assiste a um concerto dos Sex Pistols e no fim comenta: "Eh pá! Estes tipos não tocam nada! "
    Depois de uma manifestação que marca a história recente da luta de massas do nosso país, o José Santos desabafa: "Agora meus amigos, «Geração à rasca» e de Iphone na mão??? santa paciencia... "

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