Ao longo da nossa vida, deparámo-nos com momentos cruciais em que somos confrontados com a inevitabilidade de fazermos escolhas.
Um desses momentos é no final do 9º ano, quando os jovens têm de escolher uma área de estudos que irá determinar o seu percurso futuro.
Escolher cursos da área das Humanidade, da área das ciências e tecnologias ou da área das artes é, pois, um dos maiores e mais importantes desafios que se colocam a um jovem.
Alguns, mais pragmáticos, decidem colocar dentro da gaveta as disciplinas em que são mais competentes e de que mais gostam e, influenciados pela escola e, sobretudo, pela família, acabam por enveredar por cursos que, à partida, lhes trarão mais estabilidade no futuro. Estes jovens acabam por se inscrever no curso de Ciências e Tecnologias que lhes dará acesso aos cursos da área da saúde e das engenharias, entre outros.
Há, no entanto, jovens mais idealistas que decidem seguir mesmo as disciplinas de que mais gostam e escolhem os cursos relacionados com as humanidades e as artes.
Claro que ao tomarem essas opções os jovens devem estar conscientes das dificuldades do mundo que os rodeia e conhecerem bem o mercado de trabalho onde pretendem inserir-se para depois não sofrerem decepções quando tiverem dificuldade em arranjar o primeiro emprego.
No já longínquo 12 de Março, a geração «à rasca» saiu à rua para mostrar ao país as dificuldades porque está a passar.
Protestaram contra a precariedade no emprego e contra o desemprego.
Olhando atentamente para o perfil dos organizadores da dita manifestação, o que é que nós temos?
Jovens licenciados, mestrados e até em doutoramento. Muito bem!
Cursos? Relações Internacionais, Relações Públicas, mestrados em «Paz no mundo» e outros semelhantes.
É claro que nada tenho contra estes cursos até porque também eu escolhi um curso da área das humanidades (História) e já em 1979 diziam que estava difícil para arranjar emprego, mas é preciso dizer a estes jovens que o estado português não tem de criar empregos para um jovem mestrado em «Paz no mundo», por muito intelectual, culto e inteligente que esse jovem seja. Penso que terá de pedir emprego nas Nações Unidas ou outros organismos semelhantes ou então terá de responsabilizar a universidade que o formou para essas inutilidades.
Aliás, o verdadeiro problema encontra-se precisamente na falta de escrúpulos que impera em muitos estabelecimentos de ensino superior que se vêem confrontados com excesso de professores e falta de alunos e vai daí criam cursos que são autênticas inutilidades mesmo sabendo que estão a licenciar jovens cujo destino é um call center ou uma caixa de um supermercado, isto se tiverem sorte, senão vão mesmo para o desemprego.
Confrontando-se com esta situação, muitos jovens com cursos sem colocação possível têm enveredado pela política e lá temos nós o futuro carregado de políticos «à rasca» e que, dessa forma, tentam desenrascar-se na vida.
Claro que nem todos os jovens se enquadram no panorama descrito acima, mas penso que esses não faziam parte dos não sei quantos milhares de manifestantes do 12 de Março pois ainda há jovens que, querendo tirar os cursos da sua preferência, não consideram que o estado é obrigado a sustentar as suas opções conscientes e vão à luta.
À luta verdadeira, dura, difícil.
Não à luta do FACEBOOK, das manifestações ou das cantigas e que terminam nos bares de moda, nas mensagens dos telemóveis de última geração ou dos portáteis mais sofisticados que os papás pagam.
Esses jovens são empreendedores, confiam nas suas capacidades e não se importam de começar numa empresa a desempenhar funções abaixo das suas habilitações e competências. Têm paciência e sabem que um dia serão reconhecidos e a sua oportunidade chegará. Não ficam em casa, no conforto do seu quarto, agarrados ao computador a mandar currículos pela internet (isto nos intervalos de mais uns joguinhos online e de umas mensagens para os amigos).
Esses jovens são aqueles a quem eu chamo desenrascados, por oposição aos que só se lamentam que estão «à rasca».
Quando terminei o meu curso, comecei imediatamente a procurar emprego nos mais variados locais: escolas, bibliotecas, museus…todos os dias via a página dos classificados dos jornais à procura de uma vaga para professor de História, Português ou Geografia.
Nada aparecia. Entretanto, e como não queria estar sem fazer nada, inscrevi-me na Escola Superior de Jornalismo do Porto. Enquanto esperava por uma coisa ou outra, montei uma pequena escolinha em casa e comecei a dar explicações. Para além disso, ajudava os meus pais no seu negócio. Um dia, vi no JN um anúncio a pedir uma professora de História para Freixo de Espada à Cinta. Sem contar nada a ninguém (pois tinha medo que os meus pais e namorado me tentassem fazer desistir da ideia) concorri e fiquei colocada, pois fui a primeira classificada entre vinte e nove candidatos ao cargo. Do meu ano de licenciatura, fui dos poucos que comecei a trabalhar logo no 1º ano porque não fiquei em casa a lamentar ou a protestar.
É claro que os tempos são outros mas eu trago aqui a minha experiência de vida para mostrar que todos os jovens têm um caminho difícil a percorrer é só sairão dessa situação se em vez de estarem constantemente a dizer que estão «à rasca», devem antes tornar-se uns desenrascados.
Por
Maria Emília Cardoso