domingo, 16 de janeiro de 2011

Ode à Liberdade

Sendo convidada para fazer parte de um painel fixo de comentadores deste blog questionei-me sobre o assunto que iria abordar nesta minha primeira publicação.
Sei que é suposto abordarmos preferencialmente problemas da nossa terra mas fiquei muito indecisa.
Escrevo sobre a última Assembleia de Freguesia e as cenas lamentáveis que lá se passaram? Sobre as iluminações de romaria que invadiram a Trofa nesta época natalícia? Sobre o Metro? …
Nada destes assuntos foi o meu escolhido e resolvi abordar o assunto que para mim realmente marca o presente da Trofa: a falta de liberdade e de espaços de debate de ideias sobre o rumo da nossa terra, associada à falta de respeito por quem pensa diferente da «nomenclatura» dominante.
Daí esta minha «ode à liberdade», uma reflexão sobre a sua importância para o eu e para o coletivo social.
A liberdade é uma forma de afirmarmos quem somos face a um facto indiscutível e de reagirmos frente a esse facto.
A liberdade não se exerce no vazio mas sim em relação a algo que a põe em causa, pois toda a liberdade só tem sentido contra algo que se nos opõe. No entanto, só tem sentido sermos do contra se o formos em nome de alguma coisa.
Assim, somos livres contra alguma coisa, mas em nome de outra.
E a melhor forma de sermos livres, a melhor forma de afirmarmos a nossa liberdade é sermos nós próprios, ou seja, é sermos aquilo que realmente desejamos ser.
E é nesta relação entre a nossa liberdade e nós próprios que se cria o nosso equilíbrio interior que é o único que nos ajuda a determinar o que está certo e o que está errado.
É portanto no exercício da minha liberdade interior que eu irei colaborar neste blog, apontando tudo aquilo que a minha noção de certo e errado me leva a tomar posições individuais sobre questões que a todos afectam.
Serei muitas vezes contra, mas sempre em nome de algo em que acredito.
Termino com um pensamento de Benjamim Franklin, que, infelizmente, se adequa a muitas situações vividas neste momento na minha terra:

«Aqueles que abrem mão da liberdade essencial por um pouco de segurança temporária não merecem nem liberdade nem segurança.»


Por


Maria Emília Cardoso

11 comentários:

  1. Parabéns! É com grande prazer que vejo-a como participante deste blog. Estou muito de acordo, a ideologia nele expressa é muito semelhante à ideologia expressa na minha participação. Seja por medo, por trocarem a sua liberdade por um pouco de segurança ou por já não acreditarem na política, a verdade é que as pessoas já não manifestam a sua opinião com a garra que as caracteriza.

    Cumprimentos;

    Nuno Costa

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  2. Maria Emília Cardoso17 de janeiro de 2011 às 13:06

    Obrigada Nuno! Vamos nós, aqueles que não se vendem à «segurança temporária» continuar a lutar pelas causas justas da nossa terra, sem constrangimentos, nem medos pois pelo menos este blog é de participação plural e livre de pressões ocultas.

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  3. Mesmo muito bem!

    Cada vez me convenço mais que o principal problema na sociedade, e em particular na política, é o medo. Medo de sermos fieis aos nossos ideais, medo que fiquemos sem voz se a usarmos apenas pela nossa consciência (a filosofia de "mais vale um covarde vivo do que um herói morto"), indo contra o vício estabelecido, chamando os bois pelos nomes mesmo quando são coisas feias e impopulares de se dizer. É óbvio que temos que ser brandos nas palavras, mas também firmes nos princípios - que o pragmatismo não seja tão grande que sirva de desculpa à covardia.

    E já agora, à frase com que terminou o texto são atribuídas muitas variantes, eu pessoalmente prefiro esta: "Any society that would give up a little liberty to gain a little security will deserve neither and lose both."

    Que escreva mais vezes assim, um abraço!

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  4. Maria Emília Cardoso18 de janeiro de 2011 às 14:13

    Realmente em Inglês a frase tem outro sentido. Obg pelo comentário que veio enriquecer a ideia principal domeu texto. Continue a seguir-nos, a ler-nos e a divulgar o blog. Vamos tentar manter o interesse dos trofenses. Sou simplesmente colaboradora mas gostava de ver o grupo de comengtadores alargado pois temos pessoas com muita qualidade e muito para dizer aos trofenses.
    Retribuo o abraço.

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  5. Parabéns pela sua contribuição Maria Emília Cardoso! Concordo com o que foi dito relativamente à antítese liberdade/medo. No entanto sou obrigado a utilizar um argumento que o Rui e o Nuno conheçem bem pelas saudáveis discussões políticas que já tivemos, e que não gosto de deixar em branco nestas situações: o primeiro entrave à liberdade política é, na minha opinião, a disciplina partidária que amputa as opiniões divergentes no seio de um partido. A política não é, infelizmente, feita a partir de diferentes visões concertadas mas antes de guerras continuas entre blocos partidários. E quando os partidos se aproximam tanto ao nível de políticas estruturais como é o caso de Portugal com PS e PSD a alternarem-se no governo torna-se quase impossível ser politicamente livre. Ou então podemos ser políticamente livres mas seremos sempre uma insignificancia no interior do sistema democrático que não é mais que a ditadura da maioria.

    Penso que esta ideia vai de encontro ao que o Nuno refere quando fala em afastamento das pessoas da política e da falta de garra implícita...

    Parabéns, uma vez mais, pelo texto Maria Emíla Cardoso!

    Um abraço

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  6. É sabido que a disciplina de voto existe, mas é importante lembrar que não é nenhuma directiva de este ou aquele iluminado que decidiu que seria assim.
    Tal como em muito locais, as propostas são colocadas em cima da mesa, são debatidas ideias, são analisados os pormenores e em determinadas ocasiões, decide-se por votar em massa nesta ou naquela proposta. É isto que acontece quando assistimos na ARtv a um partido a votar em massa.
    Quantas vezes eu próprio tinha uma opinião formada, e depois de a debater com outros e comparar o ponto de vista deles com o meu, acabo por concordar e alterar a opinião? Penso que seria mau se isso não acontecesse, ou talvez não, era sinal que seria o "rei da razão". rsrsrsrs
    Agora o facto das pessoas não acreditarem nos políticos, na minha opinião, para além de outros factores, actualmente passa por uma moda. Hoje em dia é moda falar mal dos políticos, e a prova é a abstenção elevada registada nas últimas eleições, e caso a abstenção fosse um partido, seria a grande vencedora na esmagadora maioria das eleições. O facto de se exercer o direito de voto é visto como uma "seca", se não fosse apenas uma moda, as pessoas votariam em branco, nulo, na extrema esquerda, qualquer coisa, mas votariam.
    É verdade, já por diversas ocasiões tive debates saudáveis com o João, é uma pessoa com ponto de vista próprio, e é muito interessante debater com ele.

    Cumprimentos

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  7. QUANDO há discussão é válido sim senhor.
    O João está a falar das vezes em que não há, das vezes em que as coisas são decididas, não por um iluminado, mas por meia dúzia a centenas de km de distância. Quando não nos perguntam o que achamos antes de nos impor.
    Por isso é que o João, que tem a maior parte das vezes um bom contributo a dar, não tem vontade de se integrar. Quem diz ele, diz outros...

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  8. Caro Nuno,

    Em 2010, estimava-se que o número de militantes do PSD rondaria os 78.000. Os dados que consegui encontrar do PS são de 2004 e falam em cerca de 77.000 militantes. Quantas destas pessoas participam activamente na discussão das directrizes e tomadas de posições destes partidos? Mil? Mil até me parece um número exagerado para ser sincero mas ainda que fossem mil, tal representaria cerca de 1,3% do total de militantes em ambos os casos. E estou apenas a referir-me aos partidos que governam desde 1974, os únicos a quem eu tenho o direito de pedir contas enquanto cidadão, não obstante a cota parte de responsabilidade do PP no anterior governo de coliçação e do PCP numa série de execessos que foram cometidos por altura do PREC e que poderiam ter levado a uma ditadura de esquerda caso as intenções do partido de incluir Portugal no Pacto de Varsóvia tivessem ido avante.

    Voltando aos números, estes 1,3% de mentes iluminadas que seguram no leme dos dois principais partidos portugueses transformam-se em 0,01% do total da população portuguesa (assumindo que os números de 2009 que falam numa população de 10.600.000 portugueses). Ou seja, Portugal vê o seu barco frágil a ser conduzido ora por 0,01% do PS, ora por 0,01% do PSD. E o resultado tem sido péssimo.

    Uma outra nota em relação à questão da "moda" de criticar os políticos: em parte concordo com essa tendência, não obstante considerar que se trata de uma tendência que deriva da falta de esclarecimento do eleitorado português, na medida em que a grande maioria dos portugueses critica os políticos que são dos partidos adversários apenas por serem adversários ou então porque lhes mexeram nos direitos, ainda que tal se devesse a uma necessidade central do país e que até fosse, a médio/longo prazo, benéfica para os eleirores. Contudo, eu poderia escrever outro comentário só para enumerar motivos para descredibilizar os políticos. Vou referir apenas alguns: má gestão dos recursos do país (10 estádios novos para o Euro, compra de armamento militar de guerra desnecessário, duas ligações de auto-estrada entre Porto e Lisboa e uma terceira equacionada quando Beja, por exemplo, nem uma tem), reformas milionárias para deputados, magistrados, autarcas, antigos membros do governo e de empresas públicas (muitas vezes acumuladas com cargos que passam a ocupar no final das funções na administração pública), esquemas de corrupção (Freeport, BPN), um sistema fiscal que apenas funciona para a "arraia miúda" e através do qual quem tem muito dinheiro pode sempre conseguir escalão A para o filho porque não lhe vai acontecer nada por roubar o Estado...podia continuar mas vou poupar-vos o massacre.

    Mais que uma "seca" Nuno, o direito de voto é viste por muitos como algo inútil pois o poder está sempre nas mãos dos mesmo e o resultado salta à vista. As pessoas estáo desligadas da política porque ela tem um défice de credibilidade semelhante à taxa de inflação no Zimbabue que, em 2008, rondava os 231 milhões por cento.

    Um abraço

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  9. Rui,

    Repara que a realidade do nosso país é mesmo essa: os "iluminados" de Lisboa decidem e o resto do país acata e implementa. Porque será que o investimento fica todo lá??? Vivemos num sistema político com pele de democracia, não uma verdadeira democracia. Um sistema em que a ditadura da maioria escolhe uma minoria para decidir tudo sem nunca ter que prestar contas a ninguém e depois assistimos a campanhas como a do actual presidente que não dá explicações a ninguém sobre os esquemas em que está metido no BPN e ainda tem a lata de incluir antigos administradores desse banco que custou muitos milhões ao contribuinte mas que não olhou a custos para financiar a anterior campanha presidencial do amigo Cavaco.

    Mas tens toda a razão, é por isso que tal como eu, muitos portugueses optam por não se alinharam políticamente por não se sentirem minimamente representados por uma classe política medíocre.

    Um abraço

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  10. Maria Emília Cardoso20 de janeiro de 2011 às 06:23

    Debate interessante,sim senhor!
    Não esqueçam que os políticos são o nosso reflexo, ou seja,em última análise, estamos a ver-nos a um espelho. A nossa democracia está podre mas vocês só abordaram situações de topo, ou seja, «the end of the line», quando tudo começa nas bases. Já pensaram como é se chega a 1º Ministro em Portugal?
    1º- inscreve-se numa juventude partidária qualquer; 2º- arrebanha muitos jovens com festarolas e uma ficha de inscrição para militante, criando o seu «saco de votos»; 3º- começa a participar em congressos, reuniões da sua concelhia e distrital; 4º- concorre a líder da sua concelhia arrebanhando mais militantes e pagando-lhe as quotas mesmo no dia das eleições e à vista de toda a gente; 5º - ganha a sua concelhia não porque foi o melhor mas porque teve mais dinheiro para comprar mais quotas de militantes; 6º- concorre a líder da distrital do seu partido e usando omesmo método, ganha; 7º- auto indica-se para deputado da nação e influencia a nomeação de deputados, ministros, secretários de estado...; 8º - concorre a líder do seu partido e ganha porque entretanto, já conseguiu que nas concelhias e nas distritais os amigos controlassem tudo através da compra de militantes; 9º - como líder do partido, é o candidato natural a 1º ministro e ganha.
    Claro que nessa fase, o povo que votou nele nem se lembra que um dia, na terreola de onde ele veio, foram as quotas ilegalmente pagas a militantes de fachada e fantoches que o fizerasm chegar onde chegou. Com um bocado de sorte, até pode vir a ser um bom 1º ministro. Quando digo 1º ministro quero dizer presidente da Câmara, da Junta... É assim que funciona e somos nós que estamos na base desta situação deplorável e nada fazemos.
    Um abraço!

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  11. Palmas Maria Emília Cardoso, sublime!

    Acho que era impossível fazer uma descrição mais assertiva, pragmática e elucidativa do esquema de "progressão na carreira" tipico do sistema político português!

    Infelizmente, e conforme refere, a culpa está na base da pirâmide. Os eleitores são responsáveis pelos líderes que têm. Eleitores acomodados ao seu "ecossistema", pouco interventivos, pouco preocupados com os processos e sem o mínimo interesse em procurar alternativas.

    Uma vez mais o meu aplauso.

    um abraço

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