quarta-feira, 18 de maio de 2011

Cavalos de Corrida


A obra de Eça de Queirós permanece, quase assustadoramente, actual na sua análise à sociedade portuguesa. Embora escrito no séc. XIX, o retrato queirosiano de Portugal extravasa o seu tempo histórico (podia ter sido redigido no séc. XII, XV ou XXI, tal é a força das suas palavras). A leitura de qualquer obra de Eça de Queirós deixa-nos um sorriso agridoce nos lábios, pois exclamamos "isto afinal pouco ou nada mudou". Tendo como referência a obra mais conhecida do autor, "Os Maias", encontramos um episódio que nos remete para o mais recente acontecimento social da nossa cidade, o famoso episódio "Corridas de Cavalos".

Inserido sensivelmente no meio da obra, este episódio retrata a alta sociedade lisboeta, a tentativa de igualar Lisboa às restantes capitais europeias e a civilidade e o cosmopolitismo artificial e forçado da sociedade. Mais: o retrato caricatural é perfeito, pois o hipódromo revela-se uma fogueira de vaidades bem ao jeito português. O sentido do ridículo perde-se totalmente.

Também a nossa cidade tinha de ter a sua "Corrida de Cavalos". Partindo de uma tradição (meia dúzia de pilecas a correr, por acaso, ao longo da linha de comboio), decidiu-se construir nos trilhos desactivados da estação em ruínas apocalípticas uma pista para cavalos. Eu repito: Uma pista para cavalos no centro da cidade nos antigos trilhos do comboio! Um cenário verdadeiramente caricatural e ridículo.

Este evento também serve para observarmos a gestão e preservação do património público: ninguém mostrou preocupação com a protecção e manutenção da antiga estação e do seu espaço envolvente (uma autêntica ferida em aberto no tecido urbano) e foi preciso a intervenção do deputado Honório Novo do PCP para que se emparedasse o edifício mas, para uma corrida de cavalos, tudo pareceu funcionar correctamente, tanto ao nível das autorizações como das verbas disponíveis. Prioridades.

No fundo, a construção de uma pista para cavalos nos antigos trilhos até se revela uma boa ideia e com visão: uma vez que o metro parece cada vez mais uma miragem, talvez se possam substituir as composições do metro por coches no troço entre a Trofa e o ISMAI. E até servia de atracção turística.

6 comentários:

  1. Ricardo, foi uma excelente iniciativa. Muita gente e que nada custou aos contribuintes em virtudes dos patrocinios.
    É melhor isto do que não fazer nada. Quem pensou nisto teve visão e arrojo.

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  2. Concordo completamente com o Ricardo. São nestas tristezas em que se gasta dinheiro, feiras de vaidades como muito bem caracterizaste.

    Arrojo? Visão? Tenta antes Parolice. Não sei como é que cabe na cabeça de alguém que seja bem empregue o dinheiro numa coisa destas.

    Pela altura da Páscoa a JSD organizou um festival de tunas para recolher alimentos para os mais necessitados, e trabalhamos imenso para o conseguir financiar, quase tivemos prejuizo - mas para ISTO não falta dinheiro.

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  3. É um evento atrativo para os patrocinadores.
    Qual o problema de se dinamizar o local e ainda se conseguir dinheiro com isso? As receitas de publicidade foram superiores aos custo do evento segundo vem nos jornais.
    Qual a alternativa, parar a Trofa? Nao fazer nada? Este tipo de eventos sao importantes para a dinamização economica dos locais

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  4. Ou ha aqui uma invejazinha por se ter feito e ter tido sucesso?
    Se é feita uma iniciativa, é porque é caro.
    Se nao se faz, é porque a Trofa está parada.
    Um pouco de coerência.

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  5. Ah, desmascarou-me, é mesmo inveja... Bolas, tinha a esperança de conseguir maquiavelicamente mascarar as minhas verdadeiras intenções com argumentos bem fundados e apropriados, mas a sua perspicácia levou a melhor...

    Mas agora a sério:

    Não critico as empresas que investiram, nem quem organizou, pois negócio é negócio e se foi um evento que atraiu muita gente e acham que foi um bom investimento em publicidade, muito bem.

    Critico sim a mentalidade de quem adere em massa a este tipo de iniciativa, quando não faltam no nosso concelho iniciativas de melhor qualidade com objectivos mais nobres. Falei do festival de tunas porque o senti na pele. Hoje por exemplo vai haver stand up comedy em S. Mamede do Coronado para angariar dinheiro para os Meninos Cantores.

    Repito - felizmente no concelho não faltam boas iniciativas, com qualidade, e em que a organização não tira um tostão - nem sequer para a gasolina que gasta.

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  6. Foi uma parolice mas o PSD aproveitou a PAROLICE para fazer campanha eleitoral... e caro nogueira da Costa, na minha opinião, acho que ao dizeres que aquilo foi uma parolice, estás a dizer que os milhares de Trofenses que assistiram ao evento, são uns parolos... O que não me espanta nada vindo de alguem cujo o lider partidário chamou ignorante a milhares de portugueses.. mas isto, é a minha opinião.

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